Há pouco tempo, percebi que eu possuía um
dom. Fiquei muito feliz e triste ao mesmo tempo, pois eu o descobri no meio da
minha família, mesmo ela não gostando de mim. Porém, este dom é superbizarro!
Agora eu já me acostumei a tê-lo em minha simples vida.
Quando ele apareceu, eu encontrava-me quase
em depressão. Não possuía amigos na escola, era rejeitado pelos professores e
ninguém me dava atenção em casa. Não sabia o que fazer mais da minha vida.
Mudei de postura, de estilo e até de personalidade já mudei, mas a situação
nunca mudou. Quando eu assistia o desenho “A liga da justiça” (desenho com
vários super-heróis), ficava viajando, imaginando ser um deles. Não tinha um
preferido, pois, qualquer um poder que aparecesse seria ótimo; as pessoas iam
gostar de mim; elas iam me amar e depender de mim. Eu queria isso!
Tudo bem que este meu dom não é lá grande
coisa, mas pelo menos me proporcionou uma melhora de vida social. Eu não
possuía vida social nenhuma, mas foi através dele que fui capaz de me enturmar,
as pessoas passaram a gostar de mim... Eu sei que este “gostar” não é
verdadeiro, mas é melhor do que nada, concorda?
Ele surgiu no dia em que toda minha família
estava reunida. Eu odiava estas festas de família, contudo fui mesmo assim. Chegando
lá, todo mundo cumprimentou todo mundo, mas pareciam não notar a minha presença
naquele local. Fui beber meu refrigerante no canto do quintal, isolado como
sempre, quando percebi que meu tio Beto, casado com a Tia Claudia, e minha
prima Ana estavam indo para a varanda da frente da casa juntos. Eu não entendi,
porque eles nunca se gostaram e em toda reunião eles discutiam. Então resolvi
ir atrás deles para ver o que estava acontecendo, porque se eles caíssem no
tapa, eu poderia chamar alguém para separá-los. No entanto, o que eu vi foi
justamente o contrário... Eles estavam se atracando sim, mas com beijos e
esfregões que o horário não me permite descrever. Ou seja, um casal de
cachorros! Deixei o casalzinho pra lá e voltei para a festa. Quando eu fui
pegar um salgadinho para comer, notei que meu primo Zé, de 27 anos, pedia tudo
pra mãe dele, era refrigerante, salgadinho, docinho, e se bobear até para ir ao
banheiro, ele pedia para ela ir por ele. Ô bicho preguiça. Depois disso,
resolvi sair de perto para não me contagiar. Então fui ficar perto da minha
irmã e do meu cunhado. Assim que eu me sentei, eles levantaram e foram dançar.
Fiquei observando-os dançar, sentado na mesa. Começou a tocar “I will survive”.
O meu cunhado deu um empurrão na minha irmã e ela foi tirar satisfação com
ele. Eu pensei que era um casal de
cavalos, ou melhor, um cavalo e uma égua. Porém, ele começou a dançar e não
parava. Quando a música chegou no refrão, ele rebolava mais que todas as
mulheres juntas. Ele se soltou de uma forma assustadora! Assistindo aquele
espetáculo, percebi que aquele cavalo, na verdade era égua. A amiga da minha
prima Ana, estava toda elegante, como se aquela festa fosse de alguém muito
importante. Com o passar da festa, eu só estava vendo-a beber sem comer nada. Ela
era de tal elegância, que os meus primos solteiros estavam em cima dela que nem
urubus disputando um pedaço da carniça. Na metade da festa, ela mostrou quem
realmente era: um tremendo pavão! Com sua plumagem bonita estava tentando
esconder os pés horríveis que possuía. Vomitou nos sapatos do meu primo
Alberto, xingou a minha tia Priscila e chamou o sogro de minha irmã de veado.
Confesso a vocês que é a primeira vez que vi um veado correr atrás de um pavão.
Com essa confusão, meu sobrinho, filho do meu irmão mais velho, subiu na árvore
e não queria mais descer. Não sabia que eu tinha um sobrinho macaco. Para melhorar
a situação, o sogro do meu irmão, que é um tremendo papagaio, viu o casal de
cachorros na varanda lá da frente e foi correndo contar pra tia Claudia. Só sei
que a tia Claudia virou uma leoa e deu uma coça na cadela da minha prima. O
elefante do meu tio Gabriel, foi tentar separar a briga. Quando olho para trás,
vi o mico leão dourado do meu irmão mais velho tropeçar e cair em cima da leoa
Claudia. Naquela altura minha mãe estava zunindo nos ouvidos dos outros que nem
mosquito, ninguém entendia o que ela estava falando e o irmão da minha cunhada
estava tirando meleca e colocando na boca. Tremendo porco. O único tio solteiro
da família estava igual o mosquito da dengue, doidinho pra picar alguém. Eu não
sei de onde saiu a minha cunhada, só a escutei me perguntando o que tinha
acontecido. Pelo tamanho da confusão e pelo bafafá que gerou em toda festa uma
pessoa não saber o que está acontecendo...
Ela foi a única pessoa que eu vi até hoje que é dois animais ao mesmo
tempo: lesma e burra! Outra coisa que tenho que confessar a vocês é que,
sinceramente, não sei onde estava. Uma hora achei que estava num zoológico, na
outra num circo.
Autor: Victor Maluko
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