quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Indo à praia



Domingo de verão com sol é o melhor dia para ir à praia com a família. Há algumas controvérsias quanto a isso, mas não levo muito em consideração, quanto mais que o assunto é sobre “pagação de mico” da família na praia.
        A diversão começa muito antes de sair de casa. Na noite de sábado começa aquele corre-corre, as mulheres na cozinha preparando o arroz, o frango, o molho e a farofa (o prato que obviamente não pode faltar) enquanto os homens prestam atenção no repórter para ver a previsão do tempo, torcendo para fazer sol, pois é a única estação do ano que aproveitam para verem as mulheres de biquínis. Na manhã de domingo, todos acordam ansiosos para curtirem o dia mais esperado da semana. As mulheres acordam mais cedo para preparem as crianças, as mochilas com tudo que tem direito. Os homens acordam um pouco mais tarde, já que a única coisa que tem para se preocupar é com o isopor, gelo e cerveja. Tem famílias que além de levarem o frango assado, ainda fazem churrasco, mas não vamos enfeitar tanto a situação que já é bastante “gritante”.
        A confusão começa no ponto de ônibus. Quando o “busão” chega, é mais um corre-corre. As mulheres preocupam-se com as crianças enquanto os homens não largam o isopor. A situação fica mais crítica quando o “busão” começa ficar lotado e entra o pessoal com as crianças e os isopores. É um tal de empurra-empurra, dá licença, esbarrões, fora alguns que aproveitam a confusão para ficar sarrando enquanto vão passando. O mais engraçado das lotações dos ônibus é que o pessoal, que vai em pé durante a viagem, concentra-se na parte da frente do ônibus, deixando um considerável espaço livre no fundão, na qual eu não consigo compreender.
        Quando chegam à praia, procuram o melhor lugar para ficar; o melhor lugar para fazer aquela farofada. As crianças logo tiram a roupa para entrarem na água, as mulheres desmancham a mochila que mais parece uma cartola de mágico: quanto mais tira, mais tem para tirar. Os homens chegam à praia colocam o isopor na areia, sentam-se na cadeira de praia, pegam uma cerveja e esperam a “chegada das sereias”.
        A hora do almoço é crucial. Aquela fila quilométrica é formada em frente às vasilhas. Algumas mães correndo atrás dos filhos, e estes dando dribles só para não saírem da água. Elas desistem e vão falar com os pais. Os pais, por sua vez, ficam revoltados porque vão perder a bela vista para ter que ir atrás dos pirralhos. Eles já chegam nas crianças botando bronca e as mães vendo aquela cena, vão tirar satisfação com eles, achando que não era necessária aquela brutalidade toda. Pronto, começa a primeira discussão, mas tudo se resolve rapidamente e vão todos comer, menos os homens que preferem ficar beliscando.
        Depois do almoço, as mulheres começam a acompanhar os homens na bebida. O carro próximo coloca aquele pagodinho gostosinho de ouvir e de sambar. A essa altura, já tem gente mais pra lá do que pra cá, e começa os espetáculos. No final da tarde, a maioria já está bêbada. Uma mulher começa a chorar dizendo que tem saudade da mãe já morta. Outra corre para a água dizendo que vai se matar. O maridão bêbado corre atrás na tentativa de tirar a mulher suicida da água, ou seja, sobra para a pessoa que não bebe para retirá-los de lá. As crianças começam a chorar. A mãe de uma criança nota que a sua filha não está ali na praia e entra em desespero. Começa a grande e confusa procura da criança perdida, que logo aparece com um sorvete na mão e a mãe se lembra de ter dado dinheiro pra ela para comprar sorvete. Começa outra discussão, só que agora é mais séria. No meio da confusão, a mulher suicida volta pra água querendo se matar de novo. Para piorar a situação, sua filha vai atrás e começa a se afogar. O pessoal dispara para água para salvar a garotinha e esquecem-se da suicida. Depois de salvar a garotinha dão-se conta da suicida e correm de novo para a água. Depois de tanta confusão acham melhor ir embora antes que aconteça algo. Quando vão guardar as coisas, a esposa nota que o maridão está “bizoiando” o que não devia e volta à discussão. Agora a confusão é generalizada. Todos vão discutindo e arrumando as coisas ao mesmo tempo. Vão para o ponto e chegam juntos com o “busão”. A situação do ônibus é a mesma, mas o clima entre o pessoal já mudou, a discussão já acabou e voltam todos em clima de festa, cantando um pagodinho.
        No dia seguinte, todos se lembram das confusões e discussões, rindo muito e marcam a próxima ida à praia. O único sóbrio da família abaixa a cabeça e pensa: “Mês que vem tem mais!”.

Autor: Victor Maluko

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